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Agrotec

Edição genética de culturas perenes pode garantir a produção alimentar do futuro num clima em mudança

O jovem investigador português Pedro Correia, da Universidade de Copenhaga, está dedicado a encontrar soluções para uma agricultura mais sustentável. A sua pesquisa foca-se na criação de culturas de cereais perenes com maior rendimento através de metodologias avançadas de edição genética. O seu projeto visa desenvolver práticas agrícolas mais sustentáveis e plantas capazes de resistir a condições climáticas extremas, como secas e ondas de calor, as quais se espera tornarem-se cada vez mais frequentes.

cereais

"Queremos melhorar as culturas perenes de cereais para que possam garantir rendimentos estáveis face a desafios climáticos como secas e ondas de calor. Isto pode criar uma produção alimentar mais resiliente e sustentável no futuro," afirma Pedro Correia.

As culturas perenes com que Pedro trabalha distinguem-se significativamente das tradicionais culturas anuais, como milho, trigo e cevada, por permanecerem no campo durante vários anos. Desta forma, desenvolvem raízes mais fortes e profundas, exigem menos químicos e maquinaria agrícola, e fixam mais CO₂ no solo, beneficiando o ambiente.

No entanto, uma das atuais limitações tem sido o menor rendimento das culturas perenes face às tradicionais. Por isso, Pedro utiliza metodologias avançadas de edição genética para introduzir mutações específicas no material genético das plantas, fazendo com que produzam sementes maiores e em maior quantidade.

"Utilizamos exclusivamente mutações naturais já presentes noutras plantas na natureza. Não introduzimos genes estranhos, A União Europeia está a preparar novas regulamentações para plantas desenvolvidas com novas técnicas genómicas, como as utilizadas na minha pesquisa. Se aprovadas, as nossas plantas estarão em conformidade com estas novas regulamentações, o que acelerará a utilização de culturas perenes.," explica.

Parte do seu trabalho envolve também criar modificações genéticas que tornem as culturas perenes facilmente distinguíveis das ervas daninhas, permitindo que robôs agrícolas do futuro possam removê-las autonomamente:

Apesar destes avanços, as culturas agrícolas ainda enfrentam concorrência das ervas daninhas selvagens, que crescem mais rápido e consomem os recursos necessários para a produção alimentar. Por exemplo, através de uma ligeira mudança na cor, forma ou outras características específicas podemos torná-las facilmente reconhecíveis pela tecnologia agrícola do futuro reduzindo a utilização de herbicidas.

Este trabalho tem potencial para revolucionar a agricultura futura, tornando as culturas perenes economicamente atrativas e ambientalmente sustentáveis. Pedro Correia vê esta investigação como essencial para estabelecer práticas agrícolas sustentáveis e capazes de resistir às alterações climáticas atuais:

"Apesar das culturas tradicionais proporcionarem rendimentos elevados, isto é sustentado por significativos agentes químicos (por exemplo, fertilizantes, pesticidas e herbicidas) estão extremamente vulneráveis alterações climáticas. Culturas perenes, com as suas raízes profundas, garantem rendimentos estáveis ano após ano, algo crucial para os agricultores num planeta afetado pelas mudanças climáticas," sublinha.

 

Dinamarca – um paraíso para investigadores com flexibilidade e alta qualidade de vida

Pedro Correia chegou pela primeira vez à Dinamarca num curso de verão em 2017 e apaixonou-se pelo país. Já está há quase quatro anos em Copenhaga e destaca as excelentes instalações de investigação e a cultura laboral descontraída:

"Aqui posso simplesmente fazer mais ciência com menos stress. As condições de trabalho, o equipamento e o apoio são excecionais” conta.

Aprecia particularmente a flexibilidade e o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal típicos da Dinamarca. Financeiramente sente-se confortável, apesar dos impostos elevados, já que o salário compensa amplamente, permitindo uma boa qualidade de vida. Linguisticamente, a Dinamarca revelou-se também um local fácil para se integrar:

"Todos falam bem inglês aqui, e existem apoios institucionais para aprender dinamarquês, por isso a barreira linguística nunca foi um problema. Isto torna a Dinamarca muito atrativa para investigadores internacionais," afirma Pedro.

Embora naturalmente ainda sinta saudades da família e dos amigos em Portugal, Correia sublinha que a Dinamarca oferece excelentes oportunidades para o futuro da sua carreira—seja na universidade ou em colaboração com a indústria biotecnológica. Não tem dúvidas de que continuará baseado na Dinamarca durante os próximos anos.